O Jantar


Nosso anfitrião, o burgomestre de Rothemburgo, nos recebeu vestido em trajes finos que em nada combinavam com sua aparência. Era manco, bonachão, baixo, com nariz adunco, usava uma barba farta que ajudava a esconder uma cicatriz localizada no lado esquerdo do rosto e tinha marca de queimaduras em seu braço esquerdo. Me admira que tenha prosperado no comércio com este aspecto. Se apresentou como Franken Nosch.

- Sejam bem vindos meus senhores! Por favor sentem-se.

Assentimos com a cabeça e nos sentamos. O burgomestre na cabeceira da mesa, meu grão-mestre na outra cabeceira e eu a sua direita.

- Como foi a vossa viajem? As estradas andam seguram hoje em dia não? Vossos esforços em manter os povos infiéis longe de nós tem trazidos bons resultados. Eu os admiro por isso.

- Agradecemos sua admiração. Creio que tenha sido por isso que nos enviou o pedido? - indagou Schwanden.

- Claro que sim. Mas não falemos de negócios antes de jantarmos. Ainda que as estradas estejam seguras, percorrer por elas ainda é cansativo e desgastante. Sirvam-se e deixemos os negócios para depois. -  desconversou batendo palmas duas vezes.

Depois das palmas uma fila de criados colocou inúmeros pratos suculentos na mesa. Degustamos cada especiaria, uma mais deliciosa que a outra. O vinho servido era o que melhor havia bebido em toda a minha vida.

Percebi que durante o jantar Nosch estava tenso pois coçava sua barba inúmeras vezes. Imaginei que poderia ser pelo fato da negociação ter sido combinada sem o aval do conselho dos burgueses da cidade. Acho que Schwanden também percebeu, pois tratou de tentar aliviar a tensão que pairava no ar.

- Nosch, que vinho maravilhoso vocês fabricam aqui. Por favor, separem alguns barris deles para a nossa viagem de volta.

- Fico feliz que tenha gostado. Este vinho é feito com uvas plantadas em nossas colinas e armazenas em tones de carvalhos de nossas florestas. A produção é limitada mas procuramos fazer com o que há de melhor por aqui. Apenas as pessoas importantes, e com uma boa quantia de dinheiro, pode degustá-lo. - vanglorio-se o burgomestre.

- Que bom que tocasse no assunto dinheiro. Podemos acertar nosso negócio agora? Pois o quanto antes acertamos, mais rápido cumprimos nossos deveres.

- Vocês são diretos como as lâminas dos sarracenos... sem ofendê-los... vocês tem a carta que enviei para a Ordem? - lamentou Nosch

O grão-mestre retira a carta da sacola que levava à cintura e coloca sobre a mesa. O burgomestre a pega e fala:

- Desculpe em pedir a carta, precisava ter certeza que vocês são realmente membros da Ordem.

- Sem problema.

- Há alguma dúvida quanto ao negócio? São 80 mil peças de ouro, isenção de impostos aos seus produtos agrícolas, trigo e cevada, e as terras próximas ao portão norte da cidade para 20 soldados veteranos e suas famílias para que possam defender a cidade em caso de algum ataque em troca da escolta sigilosa da minha filha mais velha em peregrinação à Terra Santa...

- Filha? - Interrompi assustado.

- Sim, filha. Está escrito na carta, leia aqui. - Afirmou estendo a carta em minha direção.

O grão mestre pegou antes de mim, me lançando um olhar de reprovação por minha indagação. Leu a carta enquanto o burgomestre se aproximou para apontar com o dedo onde estava escrito "Erstgeborene".

- Mas este termo é usado para primogênito ou filho mais velho . - Retrucou o convicto grão-mestre Schwanden.

- Sim. Mas também é usado para filha mais velho ou primogênita. - Afirmou o ardiloso burgomestre Nosch.

- Ninguém chama a filha mais velha de primogênita, pois primogênito é mais usado para filhos. Você está querendo me enganar...Nosch?

 - O que é isso? Longe de mim. Minha reputação de comerciante e burgomestre não pode ser manchada por uma tentativa de enganação a uma pessoa importante como o senhor... nem me atreveria a tal tentativa. 

- De qualquer maneira, esse detalhe muda em muito as dificuldades da missão. - Não me contive em dizer.

- Filho ou filha? O que muda? Uma letra? A viagem é a mesma ora! - Rebateu o burgomestre - Além do mais, deduzi que a vossa vinda com um aparato de homens assim tão grande já seria para transportar o dinheiro fechando o negócio.

- Fecharíamos se os termos fossem claros... diz Schwanden sendo interrompido por Nosch:

- Foram vocês entenderam errado!

- Foi o senhor que escreveu de forma dúbia de propósito... - Insinuou Schwanven aumentando o tom da voz.

- Posso pedir à outra Ordem para fazê-lo então! - diz Nosch quase aos berros.

Percebendo que a discussão ia para um caminho ruim para todos, principalmente para mim, decidi intervir. Toquei no ombro de Schwanden e sussurrei.

- Mestre, posso falar com o senhor um instante? Senhor Nosch, podemos conversar para que possamos apresentar uma contraproposta?

O burgomestre se curva debochadamente indo de costas para a porta:

- Como quiserem...

A seguir: A negociação

Trilha sonora do episódio:


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