A Filha do Burgomestre

A mais velha de quatro irmãos, Frieda Nosch sempre foi uma menina diferente. Contrariando o significado teutônico do seu nome: "Pacífica", nunca foi de assumir o lado frágil feminino. Mais alta que a média das meninas de sua idade, sempre a trataram como mais velha ainda, isso a fez aprender a se defender mais cedo. Sempre brincou com os meninos, sempre foi a líder, sempre foi respeitada por seus iguais e sempre mal compreendida pelos demais. Principalmente seu pai.

Quando adolescente, seu progenitor a enviou para o convento das irmãs Clarissas em Dusseldorf. A mandaram de volta em 3 dias. Henrich, o chefe da guarda da cidade e veterano nas lutas contra os invasores do oeste, se comprometeu a educar a menina e tentar ensinar-lhe bons modos. Com ele, ela aprendeu o manejo da espada e de sua arma favorita, o arco longo. Este tipo de arco tem aproximadamente a altura da pessoa que o empunha, sendo assim o arco de Frieda é quase do tamanho que os homens usavam. Em muitas vezes ela vencera torneios de arqueiros da cidade, gerando assim admiração e inveja por parte dos derrotados.

Além do uso do arco ela era exímia amazona. Seu cavalo fora um "presente de grego" de seu pai,  comprado de um soldado que saqueou um exército mongol nas lutas do oeste. O cavalo mongol não é muito alto, um pouco maior que um pônei, por isso seu pai, influenciado por Henrich, a presenteou com ele. O senhor Nosch achava que estava dando um cavalo baixo e frágil, porém Henrich já havia visto os arqueiros mongóis em ação sobre seus cavalos. Ficou tão admirado com a técnica e a precisão deles que treinou por conta própria passando o que aprendera para Frieda. Montado sobre o cavalo o uso do arco longo é impossível, sendo necessário o uso do arco composto. Frieda só utiliza este arco quando montada em Ogodai, nome do seu amado cavalo.

Além de usar arco e montar à cavalo, Henrich a levava para caçar, a ensinou como sobreviver em bosques, o uso de algumas plantas medicinais e rastreio. Sempre que podia estava fora da cidade com ela, quanto menos ela fosse vista por seu pai e pelos invejosos da cidade, melhor para os negócios dele.

Ela sempre mantinha seus cabelos curtos, mantinha seus seios bem apertados com tiras de pano para que estes não a atrapalhassem no uso dos arcos e para que sua imagem se tornasse menos feminina possível.

Esta imagem quase masculina que apresentava a ajudava a passar desapercebida em algumas ocasiões. Quando estava no bosque próximo ao portão Bugtor percebera a cavalgar ligeiro de um batedor vestido com trajes cruzados. Deduziu que fosse para avisar a chegada de uma comitiva  e tratou de regressar para a cidade para aguardar os forasteiros. Não tardou a chegarem, eram cerca de 30 homens e a julgar pela aparência, eram do norte. No mês passado outra comitiva cruzada composta por italianos havia estado ali, conversaram com seu pai brevemente e partiram no mesmo dia pelo caminho que vieram. Seu pai nada falou a respeito do teor da conversa com ela e nem com Henrich. Como eram do norte, ela tratou de esconder Ogodai das vistas dos visitantes e se aproximou deles para ajudar a desmontarem e a montar as barracas juntamente com os serviçais.

Quando Henrich chegou ao pátio, ela foi em direção à ele e pediu que ele fosse tentar ouvir o que seu pai iria conversar com os dois líderes cruzados que entraram no palácio. Enquanto Henrich tentava cumprir seu pedido, ela ficou próximo aos soldados e percebeu que eram bem disciplinados porém a sua maioria era inexperiente. Uns poucos apresentavam cicatrizes de batalhas e eram mais alertas. Tratou de ficar longe destes. Não conseguir ouvir nada que denunciasse a intenção de tamanha comitiva, apenas conseguiu entender que o grão-mestre da ordem era um dos homens que entraram e que o outro era indigno de estar ao lado do mestre, tendo em vista que ele fora enganado pelo inimigo em sua última missão perdendo todos os seus homens.

Ela ficou tentando adivinhar o que o grão-mestre de uma ordem cruzada fazia ali. Seu irmão homem mais velho tinha 15 anos, poderia ir com eles para entrar na ordem, porém ele queria seguir os paços de seu pai e o mais novo tinha 12 anos, idade da maioria das crianças que foram na fatídica cruzada dos meninos de alguns anos atrás. Será que eles queriam recursos para suas campanhas? Terras para se construir uma fortaleza? A muito não haviam peregrinações e saques nas estradas.

A noite chegou e foi servido o jantar para as ilustres visitas. Frieda ficou na cozinha para tentar ouvir o que os serviçais falavam. Henrich ficou na porta da sala de jantar montando guarda para evitar a entrada de pessoas indesejáveis. Ainda bem! Contudo Frieda ficou ainda mais apreensiva ao perceber que o jantar demorava muito e seu pai saíra da sala para conversar com Henrich.

Após a conversa Henrich a procurou e disse para que ela aprontasse suas coisas pois faria uma viagem longa. "Não sabia que templários alistavam mulheres" - pensou. Henrich a acalmou e pediu que o aguardasse pois precisava contar um segredo para ela antes de partir.

A seguir: O segredo

Trilha sonora do episódio:

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