Os gritos


Enquanto cavalgávamos em direção aos gritos, desembanhei minha espada e Frieda equipou o arco curto composto. Antes de agir, ela atirou uma flecha na direção dos indivíduos que vimos em nossa frente.

Haviam dois sujeitos vestido de cota de malha leve e túnicas brancas por sobre elas, ambos seguravam pelos braços uma mulher de cabelos longos negros e vestida com trajes coloridos ciganos. A flecha que Frieda lançou atingiu em cheio a parte anterior da coxa de um deles que largou o braço da jovem e caiu no chão contorcendo de dor, porém a jovem continuava sendo segura pelo outro sujeito.

- Largue a moça! - ordenou Frieda.

- Não recebo ordens de uma mulher! - esbravejou o que ainda segurava a moça.

Me espantei em ver que eles estavam com túnicas teutônicas e creio que eles também se espantaram comigo.

- Camarada, não sabia que andava com mulheres arqueiras, ensine-a bons modos. - retrucou o sujeito para mim.

- Chega de conversa e larguem a mulher! - gritou Frieda sem baixar o arco.

 - Porque seguram esta mulher? - pergunte.

- Ela não queria nos dar a bolsa e queríamos nos divertir com ela, entende? - respondeu com um sorriso amarelo o sujeito que apertava ainda mais o braço da moça.

- Não entendi. De onde vocês são? De qual castelo? Quem é o chefe de vocês?

- Como assim? Chefe? Castelo? Você é novo no grupo? Não foi Plunderer que o convocou?

Olhei para Frieda e fiz sinal com a cabeça para que acertasse o sujeito. A flecha foi mortalmente desferida em sua testa fazendo com a seu corpo caísse inerte  soltando a moça, que se desequilibrou e caiu ao lado do corpo. Desmontei rapidamente do cavalo e fui em sua direção. Ela levantou, chutou o que estava ferido entre as pernas, este grunhiu de dor. A jovem desembanhou uma adaga e se pós em posição de ataque para mim. Frieda preparou outra flecha e gritou:

- Acabamos de salvá-la, não vai agradescer?

- Eles não eram cavaleiros teutônicos. Me perdoe milady. - proferi guardando a espada.

Parei de andar. Ouvimos do outro lado o som de cavalos vindo velozmente em nossa direção. Dei alguns passos para trás. A jovem fez que ia correr mas Frieda a ordenou que parasse ainda apontando o arco para ela.

Três figuras surgiram em seus cavalos bem à nossa frente e atrás da jovem cigana. Saquei a espada e me preparei para o combate.

Eram três homems montados em cavalos negros, sendo dois vestidos com trajes ciganos e o líder estava vestido com uma armadura leve de placas negras. Todos tinham barba e cabelos compridos.

- Está bem Mirah? - gritou o cavaleiro que liderava os outros dois.

- Sim, eles me salvaram dos bandidos. Porque demorou?

- Corri o mais que pude... e este? Porque ainda está vivo? - perguntou apontando para mim.

Frieda apontou o arco para o líder e gritou:

- Nem se movam ou mato vocês.

- Klaus, ela e ele me salvaram, o cavaleiro não fazia parte dos bandidos. - disse a cigana se colocando entre mim e o líder.

- Pois bem, muito obrigado e já podem ir. - nos ordenou o líder dos ciganos.

- Klaus devemos isso a eles, se não fosse pela ajuda deles eu estaria morta. - interpelou a cigana Mirah.

- Pois bem, venham conosco se quiserem. Suba em meu cavalo querida. - falou o líder estendendo a mão para Mirah.

- Sim, mas antes que me esqueça. - respondeu a cigana e caminhou até o corpo do bandido morto e pegou sua espada partindo em direção ao outro sujeito ferido. Com um só golpe decapitou o que estava vivo, enrolou a cabeça na túnica dele e amarrou-o na sela do cavalo do líder Klaus montando-o logo em seguida.

- Venham! Vou pagar a minha dívida com vocês. - pediu a cigana Mirah.

- Vamos Frieda, vamos aceitar a "doação" para nossa viagem. - disse em tom irônico para Frieda que a esta altura ainda não baixara o arco e olhava furiosa para mim.

Frieda então baixou o arco, resmungou algo que não consegui entender e me seguiu.

Eu já seguia os ciganos que caminhavam a diante.

A seguir: Acampamento cigano.

Trilha sonora do episódio:



A viagem continua


Acordamos e nos arrumamos para prosseguir viagem, quando descemos para o hall, o desjejum já estava pronto e com mesa farta, Parzner nos condus em direção à mesa e puxa cortesmente a cadeira para que Frieda sente.

Ao terminamos a refeição nos dirigimos ao hall e quando eu girei o tronco para pegar a bolsa de moedas para pagar a estadia, Parzner retira todo o dinheiro do caixa e coloca em sobre o balcão dizendo:

- Podem levar tudo.E boa viagem!

Fiquei surpreso porque ele disse isso e se trancou na saleta atrás do balcão. Frieda olhou para mim igualmente espantada, porém se dirigiu até o balcão e pegou as moedas e disse:

- Leve como "doação" para a ordem. - falou batendo de ombros.

- Não é correto. - disse pegando as moedas das mãos dela acrescentando as moedas referentes ao valor de nossa estadia na estalagem.

- Seu senso de justiça me irrita às vezes. - bufou pegando as moedas e colocando em sua sacola e pisando duro em direção à porta.

- Vamos embora "paladino". - ordenou-me já indo desamarrar o seu cavalo.

Tirei algumas moedas da minha sacola e deixei no balcão.

- Perdoe nos! - gritei indo montar meu cavalo, já que Frieda já havia montado seu cavalo indo de volta para a estrada.

A alcancei e emparelhei com ela novamente.

- Ora se ele deu e não queria devolução, porque recusar? - interpelou Frieda antes que eu pronunciasse algo.

- Senti que não foi "doação". Havia outro sentimento ali...

- Gratidão por receber ilustre cavaleiro em sua estalagem?

- Não. Mas realmente nossa ordem não vem muito para cá. Todavia isso não justifica ter dado tanto dinheiro. Contudo, ainda assim, sinto que havia algo de estranho no ar...

- Não justifica mas explica, é o suficiente não?

- Não, mas já que você se precipitou em pegar o dinheiro e sair rapidamente, não tive como tentar perceber mais alguma coisa e...

- Shiiii - fez Frieda colocando o dedo indicador da mão esquerda sobre seus lábios.

- Ora! Não me mande calar a boca!

- Quieto, não está ouvindo?

Calei-me para tentar ouvir. Ouvi vozes vinda da continuação do caminho. Prestando mais a atenção as vozes viraram gritos. Gritos de mulher. Frieda também identificou os gritos e partimos a toda velocidade na direção deles.

A seguir: Os gritos.

Trilha sonora do episódio:

Halo - Angst

 

Primeira parada - Larrieden


Após algumas horas de cavalgada pelos caminhos do sul, decidi começar uma conversa com Frieda pois o silêncio começou a me incomodar muito.

- Já que vamos viajar por longos dias que tentemos conversar não? - inciei a conversa.

- E o que tenho para conversar com o senhor? - respondeu me com leve sorriso no rosto.

- Frau, que fique bem claro que não a estou levando como minha prisioneira, sou seu companheiro de viagem. Ao contrário dos cavaleiros templários de outras ordens, não subestimamos o valor das mulheres e saiba que a respeito e a vejo como uma guerreira de igual valor ao meu.

- De acordo. - assentiu olhando o horizonte.

Antes de continuar ela me interrompeu:

- De acordo que não sou sua prisioneira, você que é meu prisioneiro.

- Como assim? - peerguntei surpreso.

- Segundo a sua reputação perante os soldados que estiveram lá na cidade, você não teve outra alternativa a não ser me me guiar nessa "viagem", portanto você está preso à essa missão e você depende do sucesso dela para que possa comandar novamente um grupo. - explicou me sem tirar o olhar do horizonte.

- Os soldados disseram isso?

- A última parte eu ouvi da sua conversa com seu mestre, a primeira parte eu ouvi dos soldados sim.

- És mais esperta do que imaginei...

- Ora, você mesmo não disse que sua ordem não subestimava as mulheres? - respondeu me finalmente olhando para mim.

Gargalhei alto.

- Saiba que és livre para voltar caso queira, porque vou até Veneza para pegar a minha herança, com você ou não.

- Não duvido disso.

Após mais algumas horas, e antes do anoitecer chegamos à nossa primeira parada, a estalagem Bärenfellmütze (pele de urso) próximo ao vilarejo de Larrieden.O vilarejo era bem pequeno, com cerca de oito casas sendo a estalagem a maior com seus dois andares. Não encontramos ninguém fora de casa e tão logo desmontamos surgiu na porta uma figura baixinha e bem ágil com um sujo avental.

- Sejam bem vindos! Deixem que eu amarre os cavalos dos senhores, por favor entrem, entrem... - falou de forma cortês o menino que saíra da estalagem.

- Muito gentil de sua parte. Onde está o dono da estalegem? - perguntei ao garoto.

- Herr Porzner está lá dentro e os aguarda. - respondeu-me apontando para a porta aberta da estalagem.

Após desmontarmos nos dirigimos até a entrada. Frieda tocou em meu ombro e disse em meus ouvidos:

- Éramos aguardados? Nossa viagem não era um segredo?

Antes de respondê-la surgiu em nossa frente um homem calvo e de média estatura e idade, pelas roupas era o chefe da estalagem.Ajoelhou-se diante de nós e beijou nossas mãos e nos puxou até o hall de entrada da estalagem.

- O que vocês desejam? - ingagou enquanto nos trazia para o hall.

- Só queremos um quarto para passarmos a noite. - respondi.

- Dois quartos. - corrigiu Frieda. 

- Sim, dois quartos, de preferência quartos vizinhos. - pedi ao senhor Porzner.

- Johann! Peçam que façam um banquete para nossas ilustres visitas! - ordenou o chefe Porzner ao garoto que acabara de entrar no hall, o mesmo garoto que nos ajudou lá fora com os cavalos.

O garoto respondeu com um "jawohl" e correu para o outro cômodo que provavelmente era a cozinha. Novamente o dono da estalegem nos pega pela mão e nos guia até o segundo andar.

- Vocês ficarão com os melhores quartos daqui, de com vista para nosso vilarejo e para a estrada do sul. Fiquem à vontade, em breve o banquete estará pronto.

Chegando à porta de um dos quartos ele nos deu a chave e apontou a porta ao lado como sendo o quarto de Frieda, tudo de forma bem ágil e apressada.

- Vou pedir para prepararem um banho de ervas para vocês também. - disse já se afastando e indo em direção à escada.

- Muito obrigada! Vocês já nos aguardavam? - indagou Frieda da porta de seu quarto.

- Sim e queremos que não pensem mal de nós... - falou já bem afastado de nós chegando novamente ao primeiro andar.

- Muito estranho... - falei baixo.

- Também acho, mas já que fomos bem atendidos, porque não aproveitar?  Um bom banho cairia bem antes de dormir. - disse Frieda entrando em seu quarto e fechando a porta.

A muito tempo que nós, teutônicos, não realizávamos patrulhas ao sul de Rothemburgo, provavelmente seja por isso que éramos aguardados e por isso que eles nos tratou bem. Meu grão mestre não se preocupava com o sul já que a Ordem dos Hospitalários tinham muita influência por aqui, ainda que estes domínios pertençam aos teutônicos.

Tomamos nossos banhos, e descemos para o jantar. Praticamente toda a população do vilarejo participou do preparo da comida. Comemos os melhores pratos e temperos da região. Todos evitavam conversar conosco, Parzner sempre solícito enchia mais e mais nossos pratos. Para beber pedimos sucos de frutas, pois evitamos bebidas alcoolicas em viagem. Isso fez com que Parzner se espantasse mas por discrição não comentou nada, e de pronto nos serviu os melhores sucos de amora da região. Fartos, subimos para nossos quartos para tentar descançar para o dia que viria.

Pelas tantas da noite acordei e fui até a sacada que ficava na varanda no final do corredor dos quartos dos segundo andar. Para minha surpresa Frieda estava lá observando o céu e ao me ver não se espantou e me disse:

- Preocupado com a viagem?

- Vou ser franco com você porque desejo que haja franqueza entre nós. Sim, estou preocupado porque nunca escoltei donzelas em cruzadas. Mesmo que mulheres tenham feito parte de exercitos em cruzadas, elas tinham experiencia em combate e mesmo as que não tinham eram esposas dos templários e ficavam cuidando da logística na retaguarda.

- Deixa ver se entendi. Você duvida da minha capacidade de luta certo? Você mesmo não ouviu de Henrich que ele me treinou? Sou exímia no manejo do arco, e já que você lutou no norte, deve ter visto arqueiros mongóis em ação. Henrich viu e me ensinou como eles fazem. Não se preocupe com a minha segurança, se preocupe apenas em me guiar por estes caminhos, porque nunca me aventurei por estas bandas.

Engoli seco e proferi:

- Desculpe frau. Confiarei mais em suas habilidades daqui para frente. E estou apreensivo porque também vim pouco para o sul. Conheço o caminho mas tem muitos anos que não me aventurava por ele. Eu ainda era um aluno da ordem quando fui em Veneza.

- Dizem que a cidade é linda.

- Sim. Eu me encantei pelos canais que são como se fossem ruas. Nelas navegam barcos que ligam cada uma das construções de suas inúmeras ilhas. Por ser um centro comercial e cultural muito grande, todo o tipo de gente vive nela. Todas seduzidas pelas belezas e oportunidades. Praticamente qualquer produto pode ser encontrado em Veneza. O que também desperta a ganância de ladrões e foras da lei.

E você os teme?
 
-  Não. Pois apesar de haver foras da lei, a segurança é prioridade para os mercadores. Você faria negócios em uma cidade violenta? Além do mais Gênova é uma concorrente de peso para Veneza. É crucial que haja ordem na cidade. A sede de muitas ordens templárias é lá e as ordens zelam pela tranquilidade.

- Então os maiores perigos que podemos encontrar seria na viagem até lá e não na cidade. Quantos dias você acha que levaremos para chegar?

- De 12 a 19 dias dependendo da saúde dos cavalos e de nossa carga. Como estamos levando o básico e nossos cavalos estão com boa saúde e descançando a noite, creio que 14 dias seria um bom número. - respondi.

- Duas semanas. Bem, vamos descançar porque a viagem será longa... - afirmou Frieda se dirigindo para seu quarto.

- De acordo. - concordei indo logo atrás dela para o meu quarto.

- Outra coisa herr Elmer. Desculpe se fui rude em algum momento. Foquei minha raiva em meu pai e quando estou com raiva lanço flechas para todos os lados. - disse Frieda de trás da porta entreaberta que cobria parte do seu corpo.

- Sem problema, já enfrentei lâminas bem afiadas. Boa noite. - disse já chegando à minha porta.

Com um sorriso Frieda fechou a porta.

Entrei em meu quarto e tentei dormir para descançar o corpo para a continuação da viagem.


A seguir: A viagem continua.

Trilha sonora do episódio:


 

A despedida


Após os preparativos, a comitiva do grão-mestre com seus 40 cavaleiros e duas carruagens saíram pelo portão norte em direção à sede da Ordem dos Cavaleiros Teutônicos em Hamburgo enquanto o cavaleiro teutônico e a donzela guerreira partiram do portão sul da cidade de Rothemburgo em compania do chefe da guarda Henrich.

Elmer espantou-se por ver a donzela guerreira Frieda montada em um forte cavalo mongol. Tal visão o deixou admirado e ao mesmo tempo preocupado, já que tal figura não era fácil de passar despecebida. Mas em vista do temperamento de sua companheira de viagem, decidiu não comentar nada.

Não foi pronunciada nenhuma palavra até atingirem os limites do burgo quando Henrich tirou um de seus anéis, estendeu a mão em direção à Frieda e finalmente falou:

- Querida, leve este meu anel. Leve-o contigo para que se lembre de mim. Quando em apuros leia a mensagem que está escrito nele, ela irá ajudá-la a superar o problema.

Frieda desmontou do cavalo, Henrich fez o mesmo e se abraçaram como um pai abraça uma filha e uma filha abraça um pai. Elmer observava impassível, percebendo que afinal, a donzela que até então se mostrava bem forte tinha sentimentos dentro de si.

- Filha, me desculpe não te falar antes, era necessário... e imploro por seu perdão. - suplicou Henrich.

- Já o tem, não se preocupe. - afirmou Frieda com os olhos marejados.

- Cuide bem dessa menina e a traga de volta para nós herr cavaleiro. Ela é o meu tesouro. Evite cavalgar a noite pelos domínios sul. Próximos dos montes gelados bandidos costumam atacar. Cuidado redobrado! - disse Henrich para Elmer.

- Não se preocupe, darei o meu melhor. - afirmou Elmer confiante.

- Estarei aqui esperando. Boa viagem para vocês.

Henrich ajudou Frieda a montar e bateu nos quartos do cavalo dela que começou a trotar.

- Lange leben und gedeihen! - exclamou Henrich com a mão direita levantada acenando em sinal de adeus para os dois.

O chefe da guarda ficou em pé na estrada observando até que as duas figuras sobre os cavalos sumissem no horizonte.

A seguir: Primeira parada

Trilha sonora deste episódio:


O desjejum



Após a noite de sono não tão tranquila, os pensamentos na viagem e em minha nova companhia, a filha do burgomestre, não paravam de vir em minha mente. Minha  preocupação era com o que viríamos a encontrar pelo caminho e não em cumprir a missão. 

Seguiríamos pela Via Romântica, uma antiga estrada construída pelos romanos (daí o seu nome) que ligava o centro do Sacro Império Romano aos pés dos Alpes que separavam o Império da República Sereníssima de Veneza. A muito nossa Ordem não fazia patrulhas pelo sul do império, deixando o sul a cargo dos Cavaleiros Hospitários, pois as lutas estavam longe da região. Nós teutônicos lutávamos ao norte, outras ordens menores lutavam à oeste contra os otomanos e outras ordens asseguravam a segurança do Império Franco à leste. O sul gozava de relativa segurança e desenvolvimento devida a prosperidades das repúblicas de Veneza e Gênova onde os comerciantes lucravam muito com as rotas comerciais que as cruzadas anteriores criaram e consolidaram. Tanto que as primeiras cruzadas foram organizadas pela Igreja com o objetivo de libertar a Terra Santa dos saracenos, enquanto que as últimas foram organizadas por príncipes em busca de riqueza e composta por nobres sem terras em busca de um feudo a governar no oriente. A mais recente cruzada foi organizada por Veneza contra os bizantinos e sua capital, Constantinopla, com quem disputavam o poder econômico na região.

A cruzada que íamos nos juntar já era a oitava, sendo esta cruzada organizada pelo rei Luis IX, que tem como objetivo combater o tirano Baibars da dinastia mameluca que devastava o Egito e ameaçava os domínios cruzados na Terra Santa. Notícias nos informava que rei Luís se dirigia para Túnis a fim de converter o emir governante da cidade e pedir que ele se juntasse a ele na luta contra Baibars. O príncipe Eduardo da Inglaterra também se uniria as forças cruzadas com seu exército e com a ajuda da Ordem do Graal. Suas forças se juntariam com as de Luís em Chipre, onde todos os cruzados se agrupariam para zarparem até Acre, capital do reino cruzado, e de lá partirem em ofensiva para o sul com o objetivo de libertar Jerusalem e o Egito.

Como esta seria uma cruzada liderada por 2 nobres de grandes reinos e seus bem equipados e numerosos exércitos, as ordens templárias menores enviaram homens para compor o exército de libertação de Jerusalem, pois era a chance de se conseguir terras e riquezas.

Minha ordem apesar de ser forte e numerosa, não quis enviar muitos homens para a cruzada, pois, na visão de nosso grão-mestre, as lutas do norte eram mais importantes e como haveriam muitas ordens envolvidas e 2 nobres de temperamento difícil, haveria o risco de muitas disputas e traições, o que poderia desgastar ainda mais a imagem da ordem.

Eu e minha companheira de viagem seriámos, portanto, os únicos representantes da Ordem Teutônica enviada para esta cruzada. Seremos uma gota de suor no banho de sangue que sempre é derramado nas cruzadas. Pior que, acredito eu, minha companhia nunca entrou em combate mortal e serei eu quem deve protegê-la.


Acordei mais cedo e meditei pedindo sabedoria à Deus para tomar as decisões certas e fazer com que minhas dúvidas e medos fossem extirpados de mim.

Fui interrompido por batidas na porta, uma das serviçais me chamou para o desjejum. Me aprontei e me dirigi até a sala de refeições. Schwanden e Nosch já conversavam e pelo sons dos homens se aprontando deduzi que o acordo fora fechado. Ao perceberem que eu havia entrado na sala, Nosch se afastou e o meu mestre veio até mim.

- Mestre, eu ainda não não conheci a menina e... - falei antes do mestre e fui interrompido com um tom de voz ríspido:

- Você mesmo disse que pouco importava ser filho ou filha. Estás pensando em desistir da missão? Pois saiba que você vai aceitá-la e isso agora é uma ordem! Dependemos dos recursos e você é o melhor homem que possuo para cumprir a viagem sem escolta!

- Sim senhor... - assenti contrariado.

Nosch novamente entra na sala e comunica:

- Meu chefe da guarda já chamou minha filha em breve ela estará aqui, me perdoem se ela não se parecer com uma donzela, é difícil criar uma menina sem a mãe por perto.

Assim que completa a frase o chefe da guarda entra na sala e diz ela precisa de um tempinho para se aprontar, Nosch bufa:

- Sempre querendo me irritar essa menina, o que mais ela quer?

- Calma Nosch, não temos pressa em partir, meus homens estão dentro do prazo. - informou Schwanden.

- Quem a criou então Nosch? Vejo que você não tem muita paciência. - indaguei

- Fui eu senhor cavaleiro. - Respondeu o chefe da guarda - por ser muito mais alta que as meninas da vila ela sofria demais, eu a defendia e como ficava difícil defendê-la sempre, decidi ensiná-la a se defender. Aprendeu tão bem que ela vê o senhor Nosch como inimigo...

- Inimigo não, apenas um estranho, um ilustre estranho. - ouvimos de uma voz feminina que vinha da porta da sala.

A figura que eu via em nada se assemelhava a qualquer uma que havia visto anteriormente. Quando afirmaram que ela tinha grande altura, não mentiram. Ela tinha cerca de 1 metro e 80 centimetros, um corpo esguio e bem proporcional. Cabelos pretos, lisos e bem curtos. Sua pele não era alva como as das donzelas, mas apesar de sua pigmentação mais curtida, que lembrava as das camponesas, isso não tirava o charme que havia em seu rosto. O olhar penetrante dela me congelou por um instante, porém ao perceber seus trajes eu não me contive e perguntei:

- O que ela tem de diferente Nosch?

Nosch também estava paralisado. Ao ouvir minha pergunta vosciferou:

- Isso é alguma piada Frieda? Mais uma tentativa sua de me tirar do sério?

- Apenas me vesti apropiadamente para receber tão ilustre visita. - respondeu Frieda sarcasticamente.

Ela estava vestida em um belo vestido longo branco, um pouco desbotado mas com rendas riquíssimas e cravejado com alguns cristais bem brilhantes. O corte do vestido acentuava sua cintura que visivelmente não era tão fina. Percebi que ela se esforçava para vestí-lo, todavia, ainda assim, ficava bonito nela.

- Esse vestido era de sua mãe é uma afronta à memória dela você vestí-lo.

- Calma Nosch, não seja indelicado na presença dos convidados. - aconselhou Henrich.

- A propósito, vejo que há uma grande comitiva aí fora, eles me levarão para onde, pa-pai? - questionou Frieda de forma irônica.

- A comitiva não frau Frieda, será herr Elmer que a conduzirá em vossa jornada. - respondeu de pronto meu mestre. apontando para mim.

- Apenas ele? Será uma curta jornada não? - espantou-se Frieda.

- Creio que não frau. A viagem será longa... - respondi

-Ah! Que bom, ficarei bem longe dessa cidade, finalmente, não meu caríssimo pai? Vou para qual convento deta vez? - indiguinou-se Frieda

- Não será convento, iremos nos juntar a uma cruzada até a Terra Santa. - respondi mais uma de suas indagações.

- Que ótimo! Porque não me enforcou logo? Ou me decapitou, pai? Vai deixar que um sarraceno faça o seu trabalho sujo herr Nosch?

- Mais respeito menina, uma cruzada a fará ver o que é a vida realmente. Vai ajudar a colocar você em seu lugar.

- Sim, e descobrir meu lugar no mundo é morrer? Pois um cavaleiro só não faz uma Cruzada. - falou apontando para mim.

- Elmer é nosso melhor cavaleiro, e vocês se juntarão aos príncipes Luís da França e Eduardo da Inglaterra na ilha de Chipre. - interrompeu Schwanden.

- Herr Nosch, já que queres me ver longe, quero partir com a minha parte da herança, pois assim caso eu morra já terei levado de ti a minha parte. - falou em tom mais brando Frieda.

- Ora, como ousa querer dinheiro? Me chantageando? Sou o homem desta casa e todos me obedecem. Você vai queira ou não, com dinheiro ou não! - disse Nosch quase aos berros.

- Herr Nosch, creio que realmente frau Frieda precise de dinheiro para a viagem, aliás não combinamos mesmo os custos da viagem dela. - ponderou o mestre Schwanden.

- Achei que já estava incluso no que paguei a vocês.

- Ah! Eles receberão pelo "serviço". Não sabia que os Teutônicos eram mercenários.

- Não somos mercenários! - defendi-me.

- É o que parece!

- Calma Frieda, aquietasse. - disse Henrich colocando as mão nos obros dela.

- Frau Frieda, seu pai doou uma quantia em dinheiro para nossa Ordem. Em troca, e de modo a retribuir o favor, nos propusemos a conduzí-la em sua viagem, e escolhemos nosso melhor cavaleiro para protegê-la. Mesmo que não queira ir até Jerusalem, aproveite o "passeio" para conhecer algo mais além dos limites de sua cidade. Aproveite a oportunidade única de ver novas terras e conhecer novas pessoas, creio que seja isso que o seu pai quer para você e não soube se expressar. Vá até Veneza, e de lá parta até a Terra Santa se quiser, não querendo pode retornar, está bem herr Nosch? - propos Schwanden

Nosch assentiu meio contrariado e meu mestre continuou se dirigindo à Frieda:

- Uma parte de nosso pagamento será dado para Elmer administrar os custos da viagem de vocês. Farei uma carta de crédito de cerca de dez mil peças de ouro que só poderão ser trocadas em Veneza, será sua parte da herança frau Frieda, com o dinheiro em mãos faça o que você quiser, fique por lá, vá para Jerusalém ou volte para casa, a decisão será sua.

Schwanden se voltou para o burgomestre e prosseguiu:

- Já que há a possibilidade dela não voltar, as outras vinte mil moedas deverão ser pagas em um mês, já que parte delas pagamos a herança e a viagem da menina. E não aceitamos contra propostas, são estes os termos ou desfazemos o negócio agora.

- De acordo. - consentiu Nosch coçando a cabeça.

- Vamos nos servir em nosso desjejum, já que a viagem será longa. Irei guiá-los até os limites do burgo - desconversou Henrich.

Nos servimos e o clima pesado não permitiu mais diálogos. Ao completar a refeição Henrich levou Frieda para se preparar, meu mestre se retirou com Nosch para o escritório dele e eu fui auxiliar o sargento nos preparativos dos soldados para o retorno deles.

A seguir: A despedida

Trilha sonora do episódio:


 

O segredo


Após a conversa com Henrich, Frieda tentara em vão descançar para o próximo dia que viria. Ela não parava de pensar do que descobrira, todas as peças que não se encaixavam passavam a ter algum sentido. Pensava tanto que acabou dormindo exausta.

Henrich passou a noite de iniciando os preparativos para a viagem dela. Se lamentava por ter demorado tanto para revelar à Frieda o segredo. Chorava em pensar que nunca mais a veria. Pior, achava doiria mais não ter o seu perdão.

* * *
Pela manhã os serviçais começaram a transportar caixas, baús e tonéis para uma das carruagens dos templários. Frieda observava tudo da janela. Apesar da noite de exaustiva de sono, acordou cedo com o som do pátio. O acampamento começou a ser levantado e uma última refeição começou a ser preparada para ser servida na hora do almoço antes da viagem.

Henrich bateu em sua porta e comunicou que o seu pai a esperava para o desjejum com os líderes dos templários. Ela pediu um tempo para se aprontar.

A seguir: O desjejum

Trilha sonora do episódio:


A Filha do Burgomestre

A mais velha de quatro irmãos, Frieda Nosch sempre foi uma menina diferente. Contrariando o significado teutônico do seu nome: "Pacífica", nunca foi de assumir o lado frágil feminino. Mais alta que a média das meninas de sua idade, sempre a trataram como mais velha ainda, isso a fez aprender a se defender mais cedo. Sempre brincou com os meninos, sempre foi a líder, sempre foi respeitada por seus iguais e sempre mal compreendida pelos demais. Principalmente seu pai.

Quando adolescente, seu progenitor a enviou para o convento das irmãs Clarissas em Dusseldorf. A mandaram de volta em 3 dias. Henrich, o chefe da guarda da cidade e veterano nas lutas contra os invasores do oeste, se comprometeu a educar a menina e tentar ensinar-lhe bons modos. Com ele, ela aprendeu o manejo da espada e de sua arma favorita, o arco longo. Este tipo de arco tem aproximadamente a altura da pessoa que o empunha, sendo assim o arco de Frieda é quase do tamanho que os homens usavam. Em muitas vezes ela vencera torneios de arqueiros da cidade, gerando assim admiração e inveja por parte dos derrotados.

Além do uso do arco ela era exímia amazona. Seu cavalo fora um "presente de grego" de seu pai,  comprado de um soldado que saqueou um exército mongol nas lutas do oeste. O cavalo mongol não é muito alto, um pouco maior que um pônei, por isso seu pai, influenciado por Henrich, a presenteou com ele. O senhor Nosch achava que estava dando um cavalo baixo e frágil, porém Henrich já havia visto os arqueiros mongóis em ação sobre seus cavalos. Ficou tão admirado com a técnica e a precisão deles que treinou por conta própria passando o que aprendera para Frieda. Montado sobre o cavalo o uso do arco longo é impossível, sendo necessário o uso do arco composto. Frieda só utiliza este arco quando montada em Ogodai, nome do seu amado cavalo.

Além de usar arco e montar à cavalo, Henrich a levava para caçar, a ensinou como sobreviver em bosques, o uso de algumas plantas medicinais e rastreio. Sempre que podia estava fora da cidade com ela, quanto menos ela fosse vista por seu pai e pelos invejosos da cidade, melhor para os negócios dele.

Ela sempre mantinha seus cabelos curtos, mantinha seus seios bem apertados com tiras de pano para que estes não a atrapalhassem no uso dos arcos e para que sua imagem se tornasse menos feminina possível.

Esta imagem quase masculina que apresentava a ajudava a passar desapercebida em algumas ocasiões. Quando estava no bosque próximo ao portão Bugtor percebera a cavalgar ligeiro de um batedor vestido com trajes cruzados. Deduziu que fosse para avisar a chegada de uma comitiva  e tratou de regressar para a cidade para aguardar os forasteiros. Não tardou a chegarem, eram cerca de 30 homens e a julgar pela aparência, eram do norte. No mês passado outra comitiva cruzada composta por italianos havia estado ali, conversaram com seu pai brevemente e partiram no mesmo dia pelo caminho que vieram. Seu pai nada falou a respeito do teor da conversa com ela e nem com Henrich. Como eram do norte, ela tratou de esconder Ogodai das vistas dos visitantes e se aproximou deles para ajudar a desmontarem e a montar as barracas juntamente com os serviçais.

Quando Henrich chegou ao pátio, ela foi em direção à ele e pediu que ele fosse tentar ouvir o que seu pai iria conversar com os dois líderes cruzados que entraram no palácio. Enquanto Henrich tentava cumprir seu pedido, ela ficou próximo aos soldados e percebeu que eram bem disciplinados porém a sua maioria era inexperiente. Uns poucos apresentavam cicatrizes de batalhas e eram mais alertas. Tratou de ficar longe destes. Não conseguir ouvir nada que denunciasse a intenção de tamanha comitiva, apenas conseguiu entender que o grão-mestre da ordem era um dos homens que entraram e que o outro era indigno de estar ao lado do mestre, tendo em vista que ele fora enganado pelo inimigo em sua última missão perdendo todos os seus homens.

Ela ficou tentando adivinhar o que o grão-mestre de uma ordem cruzada fazia ali. Seu irmão homem mais velho tinha 15 anos, poderia ir com eles para entrar na ordem, porém ele queria seguir os paços de seu pai e o mais novo tinha 12 anos, idade da maioria das crianças que foram na fatídica cruzada dos meninos de alguns anos atrás. Será que eles queriam recursos para suas campanhas? Terras para se construir uma fortaleza? A muito não haviam peregrinações e saques nas estradas.

A noite chegou e foi servido o jantar para as ilustres visitas. Frieda ficou na cozinha para tentar ouvir o que os serviçais falavam. Henrich ficou na porta da sala de jantar montando guarda para evitar a entrada de pessoas indesejáveis. Ainda bem! Contudo Frieda ficou ainda mais apreensiva ao perceber que o jantar demorava muito e seu pai saíra da sala para conversar com Henrich.

Após a conversa Henrich a procurou e disse para que ela aprontasse suas coisas pois faria uma viagem longa. "Não sabia que templários alistavam mulheres" - pensou. Henrich a acalmou e pediu que o aguardasse pois precisava contar um segredo para ela antes de partir.

A seguir: O segredo

Trilha sonora do episódio:

A Negociação


- Mestre, a Ordem precisa deste dinheiro. E para a Ordem, pouco importa ser filho ou filha, pois quem vai guiá-la sou eu. Mais importante é o dinheiro, as terras e os incentivos. Seria prejudicial para nossa luta se o negócio não for fechado - Argumentei com Schwanden e ele me respondeu:

- Concordo com você. E pergunto: Você estaria disposto a escoltar uma mulher até a Terra Santa? A viagem por si só já é perigosa. Tendo como responsabilidade a segurança de uma donzela é por demais complicada.

- Sim mestre, estou disposto a mostrar meu valor. E concluindo esta missão com sucesso, voltarei a pleitear minha posição como marechal de campo, voltando a comandar uma tropa nas batalhas do norte. De acordo mestre?

- Me surpreendendo, não Raynard? Reconheço o seu valor como cavaleiro, tanto que o escolhi para a missão. O fato de ter sido fracassada sua incurção à Lobnitz não diminuiu em nada minha confiança em sua capacidade.

- Pois bem mestre, se não há duvidas quanto minha capacidade, me conceda novamente o comando ao meu regresso. Se fracassar pelo menos a Ordem terá fundos para a luta e eu terei morrido em solo sagrado.

Após alguns instantes de reflexão, o grão-mestre proferiu:

- Aceito os seus termos. Escoltará a donzela até a Terra Santa.

- Uma outra coisa mestre, o burgomestre está blefando em relação a pedir ajuda para outra Ordem. Tente tirar mais algum benefício no negócio.

- Confiarei em sua capacidade em descobrir a verdade. Muito obrigado.

Abrimos a porta da sala de jantar e encontramos o burgomestre conversando com um homem que parecia ser o chefe da guarda da cidade. 

- Já temos uma respota Nosch. - afirmou meu mestre.

O homem se retirou e o burgomestre veio em nossa direção, entrando na sala e fechando a porta.

- Que bom que tenham uma posição, positiva para ambos por sinal?

- A missão é muito perigosa e podemos não obter êxito.

- Não tem problema, desde que a levem para Jerusalém, ela...

Interrompi sua fala me pondo a frente do mestre: 

- Mestre permita-me. - meu mestre assentiu com a cabeça.

-  Que pai é este que não quer a filha perto de si? Porque simplesmente não a enviou para um convento? Existem inúmeros que aceitariam essa pequena fortuna para acolhê-la.

- Vocês não conhecem minha filha. A peregrinação para Jerusalém é o que há de melhor para ela. Em um convento ela causaria ainda mais problemas...

- Ela é um problema? Mestre, além dos perigos da viagem, vou escoltar um problema. - me dirigi a Schwanven com um sorriso sarcástico no rosto.

Meu mestre então continuou:

- Então Nosch, você terá que procurar outra Ordem e oferecer uma quantia maior como pagamento, porque...

- Por favor cavaleiros - interrompeu Nosch -  confio na bravura de vossa Ordem, lutei ao lado de soldados teutônicos em Damietta e sei que lutam como verdadeiros heróis. O problema é dinheiro? Posso conseguir mais, mas não agora, posso pagar mais quando regressarem com minha filha. - suplicou o burgomestre.

- Tudo bem, mais 20 mil moedas de ouro quando sua filha regressar e um carregamento de 200 tonéis do seu vinho e que seja vendido com menos margem de lucro para meu castelo. De acordo?  Deseja pedir mais alguma coisa Raynard?

- Sim mestre. Só mais uma pergunta: Nosch que tipo de problema sua filha é?

- Ela me atormenta. É indisciplinada, não aceita seu papel de donzela, se comporta como um homem, não quer vestir roupas adequadas, anda a cavalo, caça e não se importa com a minha condição de chefe da cidade. Os membros do conselho sabem da minha capacidade em gerir a cidade e os negócios, porém o povo comenta que se eu não consigo administrar minha casa, como posso administrar a cidade? Por isso peço, levem-na para Jerusalém, lá ela verá o que é o mundo de verdade. As atrocidades que são cometidas por lá é demais para qualquer alma cristã.

 Gostaria de conhecê-la antes de partirmos.

- Amanhã pela manha no desjejum ela estará aqui.

A Seguir: A Filha do Burgomestre.

Trilha sonora do episódio:


 

O Jantar


Nosso anfitrião, o burgomestre de Rothemburgo, nos recebeu vestido em trajes finos que em nada combinavam com sua aparência. Era manco, bonachão, baixo, com nariz adunco, usava uma barba farta que ajudava a esconder uma cicatriz localizada no lado esquerdo do rosto e tinha marca de queimaduras em seu braço esquerdo. Me admira que tenha prosperado no comércio com este aspecto. Se apresentou como Franken Nosch.

- Sejam bem vindos meus senhores! Por favor sentem-se.

Assentimos com a cabeça e nos sentamos. O burgomestre na cabeceira da mesa, meu grão-mestre na outra cabeceira e eu a sua direita.

- Como foi a vossa viajem? As estradas andam seguram hoje em dia não? Vossos esforços em manter os povos infiéis longe de nós tem trazidos bons resultados. Eu os admiro por isso.

- Agradecemos sua admiração. Creio que tenha sido por isso que nos enviou o pedido? - indagou Schwanden.

- Claro que sim. Mas não falemos de negócios antes de jantarmos. Ainda que as estradas estejam seguras, percorrer por elas ainda é cansativo e desgastante. Sirvam-se e deixemos os negócios para depois. -  desconversou batendo palmas duas vezes.

Depois das palmas uma fila de criados colocou inúmeros pratos suculentos na mesa. Degustamos cada especiaria, uma mais deliciosa que a outra. O vinho servido era o que melhor havia bebido em toda a minha vida.

Percebi que durante o jantar Nosch estava tenso pois coçava sua barba inúmeras vezes. Imaginei que poderia ser pelo fato da negociação ter sido combinada sem o aval do conselho dos burgueses da cidade. Acho que Schwanden também percebeu, pois tratou de tentar aliviar a tensão que pairava no ar.

- Nosch, que vinho maravilhoso vocês fabricam aqui. Por favor, separem alguns barris deles para a nossa viagem de volta.

- Fico feliz que tenha gostado. Este vinho é feito com uvas plantadas em nossas colinas e armazenas em tones de carvalhos de nossas florestas. A produção é limitada mas procuramos fazer com o que há de melhor por aqui. Apenas as pessoas importantes, e com uma boa quantia de dinheiro, pode degustá-lo. - vanglorio-se o burgomestre.

- Que bom que tocasse no assunto dinheiro. Podemos acertar nosso negócio agora? Pois o quanto antes acertamos, mais rápido cumprimos nossos deveres.

- Vocês são diretos como as lâminas dos sarracenos... sem ofendê-los... vocês tem a carta que enviei para a Ordem? - lamentou Nosch

O grão-mestre retira a carta da sacola que levava à cintura e coloca sobre a mesa. O burgomestre a pega e fala:

- Desculpe em pedir a carta, precisava ter certeza que vocês são realmente membros da Ordem.

- Sem problema.

- Há alguma dúvida quanto ao negócio? São 80 mil peças de ouro, isenção de impostos aos seus produtos agrícolas, trigo e cevada, e as terras próximas ao portão norte da cidade para 20 soldados veteranos e suas famílias para que possam defender a cidade em caso de algum ataque em troca da escolta sigilosa da minha filha mais velha em peregrinação à Terra Santa...

- Filha? - Interrompi assustado.

- Sim, filha. Está escrito na carta, leia aqui. - Afirmou estendo a carta em minha direção.

O grão mestre pegou antes de mim, me lançando um olhar de reprovação por minha indagação. Leu a carta enquanto o burgomestre se aproximou para apontar com o dedo onde estava escrito "Erstgeborene".

- Mas este termo é usado para primogênito ou filho mais velho . - Retrucou o convicto grão-mestre Schwanden.

- Sim. Mas também é usado para filha mais velho ou primogênita. - Afirmou o ardiloso burgomestre Nosch.

- Ninguém chama a filha mais velha de primogênita, pois primogênito é mais usado para filhos. Você está querendo me enganar...Nosch?

 - O que é isso? Longe de mim. Minha reputação de comerciante e burgomestre não pode ser manchada por uma tentativa de enganação a uma pessoa importante como o senhor... nem me atreveria a tal tentativa. 

- De qualquer maneira, esse detalhe muda em muito as dificuldades da missão. - Não me contive em dizer.

- Filho ou filha? O que muda? Uma letra? A viagem é a mesma ora! - Rebateu o burgomestre - Além do mais, deduzi que a vossa vinda com um aparato de homens assim tão grande já seria para transportar o dinheiro fechando o negócio.

- Fecharíamos se os termos fossem claros... diz Schwanden sendo interrompido por Nosch:

- Foram vocês entenderam errado!

- Foi o senhor que escreveu de forma dúbia de propósito... - Insinuou Schwanven aumentando o tom da voz.

- Posso pedir à outra Ordem para fazê-lo então! - diz Nosch quase aos berros.

Percebendo que a discussão ia para um caminho ruim para todos, principalmente para mim, decidi intervir. Toquei no ombro de Schwanden e sussurrei.

- Mestre, posso falar com o senhor um instante? Senhor Nosch, podemos conversar para que possamos apresentar uma contraproposta?

O burgomestre se curva debochadamente indo de costas para a porta:

- Como quiserem...

A seguir: A negociação

Trilha sonora do episódio:


A Missão



Rothemburgo, 1271

Após alguns dias de viagem, partindo de nossa sede em Hamburgo, chegamos ao anoitecer ao maior dos portões de entrada da cidade de Rothemburgo. O portão Burgtor era usado como acesso e ao mesmo tempo como local de cobrança de impostos dos comerciantes que ali chegavam. Apesar do grande movimento, nossa entrada foi tranquila e rápida, já que nossa chegada era aguardada e fora anunciada previamente por um de nossos batedores. O portão de Burgtor foi escolhido por nosso anfitrião para a nossa entrada, por dar acesso direto aos jardins de seu palácio.

Nossa comitiva era composta por 40 homens, sendo 10 destes homens membros da guarda pessoal de nosso grão mestre - Burchard von Schwanden -  que veio pessoalmente fechar negócio com o burgomestre de Rothembrugo, e os outro 30 homens eram jovens recrutas em sua primeira viajem após o treinamento básico. Eles substituirão os membros do meu antigo grupo que agora serão liderados por outro marechal.

Desde os eventos em Lobnitz não pude mais liderar um grupo, muito embora Schwanden tenha me chamado constantemente para fazer parte de seu grupo como segundo em comando. Alguns dos meus irmãos de armas ainda torcem os narizes para mim, pois acham que isso soa como uma promoção por ficar próximo ao mestre. Mas ele, assim como eu, sabe que isso é uma tortura para mim. Essas viagens pelas cidades protegidas da Ordem são um tédio para o meu espírito guerreiro. Lutei contra os pagão eslavos e contra os ferozes mogóis. Tenho cicatrizes no corpo e em minh'alma. Sofro pela morte dos meus homens. Eles eram minha família.

Neste momento irmãos de outras ordens tem lutado no Oriente contra os sarracenos. Schwanden teima em não ajudá-los enquanto não dominar a Livônia. As constantes lutas contra os eslavos no norte tem minado nossos recursos, tanto em bens materiais quanto em material humano.

A proposta do burgomestre de Rothemburgo, um veterano guerreiro que havia peregrinado para a Terra Santa a alguns anos e feito riqueza ao regressar, pareceu oportuna para os cofres da Ordem. Schwanden revelou para mim o seu plano apenas quando estávamos próximo da cidade.

O burgomestre havia pedido à Ordem, que levassem seu filho para Veneza e de lá partisse em peregrinação rumo à Jerusalém. Para tal, ele pagaria uma quantia em dinheiro, terras para alguns soldados veteranos e isenção de impostos para nossos produtos em sua cidade. Claro que com estas condições ele desejava que a negociação fosse acertada em segredo, pois o conselho dos burgueses poderia entender que o burgomestre estaria comprometendo mais do que ele poderia.

O pagamento seria feito em sigilo e a viajem de seu filho também seria realizada em sigilo, para que não despertasse a cobiça de bandidos desejosos em sequestrá-lo e exigir um gordo resgate. Como minha situação em nosso castelo estava difícil, pois minha reputação estava abalada, o grão-mestre decidiu que eu deveria levar o filho do burgomestre para Veneza, nos juntarmos aos Cruzados liderados pelos príncipes Luís da França e Eduardo da Inglaterra que se dirigiam para a ilha de Chipre e de lá partiriam para Acre e depois lançariam um ataque à Jerusalem libertando-a dos infiéis.

Não tive outra alternativa, aceitei a missão, mesmo que isso significasse servir de protetor de um filho mimado de um comerciante. Qualquer coisa era melhor que a situação em que me encontrava, longe das batalhas. E morrer na Terra Santa seria uma forma de pagar meus pecados... mas não antes de mandar alguns sarracenos para o inferno primeiro.

Ao chegarmos nos jardins do palácio, os serviçais do burgomestre logo nos ajudaram com os cavalos e nossas bagagens. Os soldados foram logo montando as barracas coordenados pelo sargento, geralmente o mais experiente em combate. A governanta nos guiou - Schwanden e eu - para os nossos aposentos onde nos limpamos e nos preparamos para o jantar que nos esperava.

A Seguir: O Jantar

Trilha sonora do episódio:


Cavaleiro Teutônico Elmer Raynard



Com 1,90m e 92Kg, nascido na cidade de Wolfsburg, norte da atual Alemanhã, filho de um cavaleiro teutônico, iniciou seus treinamentos aos 14 anos findando sua formação aos 20 anos. Lutou inúmeras batalhas contra os hereges demostrando seu valor, bravura e a sua capacidade de liderança. Este fato fez com que se tornasse marechal aos 25 anos liderando cerca de 30 homens que - em conjunto com outros 90 - compunham a elite da ordem na região em torno da cidade costeira de Hamburgo, de onde partiam e chegavam navios com inúmeras mercadorias vindas de Veneza.

Contudo, ao investigar um possivel caso de posseção demoniaca em uma pequena vila ao norte de Leipzig, vem a perder todos os seus homens, abalando, assim, sua reputação perante seus superiores.

A longa campanha da Ordem contra os povos eslavos - que teimam em não se converterem ao cristianismo - faz com que os gastos superem os ganhos causando uma crise econômica à Ordem.

Em vista disso, o pedido de ajuda do burgomestre de Rothemburgo aos Teutônicos é muito providencial, pois ele paga com uma vultuosa quantia em dinheiro, mercadorias e incentivos fiscais pela proteção do seu filho em sua peregrinação à Terra Santa.

O grão mestre Teutônico envia Raynard para cumprir a missão de escoltar o filho do burgomestre em sua peregrinação, partindo de Rothemburgo indo em direção ao porto de Veneza e para só depois se unir à nona cruzada do prínicipe Eduardo da Inglaterra.

Ordem da Casa Teutônica de Santa Maria de Jerusalém

Os cavaleiros Teutônicos formavam uma ordem religiosa alemã, formada ainda nos anos de 1190 para atender aos interesses germânicos na Terra santa. Sua origem estava em um hospital dedicado à Virgem Maria, o que até certo ponto os identificava com os hospitalários. A ordem só foi reconhecida em 1199, quando recebeu uma regra e o direito de utilizar o manto branco dos templários, mas com uma cruz negra ao invés da vermelha. A partir desse ponto, a identificação com os hospitalários já havia se perdido. Os Teutônicos formariam uma ordem exclusivamente militar, perdendo as características de atender aos doentes e necessitados.

A sede dos Teutônicos mudou-se da Terra Santa para Veneza depois da queda de Acre, o último reino franco no Oriente. Anos depois, a nova base já seria nas terras germânicas, mais precisamente em Marienburg. Antes disso, a ordem já havia mudado seus principais objetivos. Não seriam mais um grupo de cavaleiros dedicado a proteger a Terra Santa, mas sim guerreiros implacáveis encarregados pelo Papa Gregório IX de converter os infiéis da Prússia. Em 1229, o papa emitira uma bula que entregava aos Teutônicos as terras da Prússia desde que lutassem contra os pagãos naquele território.

A batalha da ordem foi cruel. Milhares de pessoas morreram massacradas pelos constantes ataques. Eram forçadas a se converterem e se tornarem servas no estado teocrático formado pelos cavaleiros. A luta implacável dos Teutônicos contra os pagãos rendeu-lhes a fama de guerreiros cruéis que perdurou durante séculos. Mesmo com a integridade questionada, ninguém nunca duvidou de sua capacidade como guerreiros.


Interpretação

O Teutônico vive em conflito com as palavras de paz de Christos e suas atitudes cobertas de fúria. Ele se justifica com suas orações e pede perdão, afirmando que suas atitudes são feitas para proteger os fiéis de Christos. Antes ele lutando do que todos precisando cometer os mesmos erros.

Esses cavaleiros caminham com seus símbolos religiosos e possuem feições sérias, poucas vezes se abrindo para o mundo. Relaxam pouco, a não ser quando estão entre amigos mais íntimos. Para eles, sua missão é ser a última linha a ser derrotada. Não podem permitir que os inimigos lhes peguem de surpresa.

Relações

Os Teutônicos vivem na tentação de sucumbir os impulsos violentos. Os anjos ouvem suas orações e os ajudam a conviver com os horrores de suas batalhas, mas os demônios procuram incentivar essa violência ao máximo, perturbando o caminho dos cavaleiros e os colocando fora do caminho de Christos.

Quase toda ordem inimiga dos Teutônicos teme quando um grupo deles entra em ação. Uma célula teutônica age como uma arma de destruição que arrasa covens inteiros de bruxas, com amigos, aliados, parentes e quaisquer pessoas que estejam no caminho. Atiçar a ira desses cavaleiros é pedir a retribuição máxima da ira divina.

Kit
Custos: 4 pts. Aprimoramento, 300 pts. De Perícias
Perícias: Armas Brancas (Espada Longa 20/30, Lança 20/25, Machado 20/20, Adaga 20/20), Esquiva 25%, Heráldica 20%, Intimidação 30%, Montaria 40%, Rastreio 40%, Sobrevivência (floresta temperada 35%). Em Trevas, troque Montaria por duas Armas de Fogo em 20%.
Aprimoramentos: Sentidos Aguçados (escolha um), Contatos 1, Recursos 1
Pontos de Fé: 0 + 1 por nível.
Pontos Heróicos: 4 por nível.

Aprimoramentos por Nível:

Bônus em Cavalgar: O Teutônico recebe o Bônus indicado na Perícia Cavalgar. Caso seja adaptado para Trevas, recebe metade do bônus indicado em uma Perícia do grupo de Armas de Fogo.

Carga!: O cavaleiro pode fazer um ataque em carga com um bônus de +10% no ataque e dano total da arma que empunha. Pode realizar essa carga um número de vezes por ida igual ao indicado na tabela.

Combate Montado: O Teutônico recebe o bônus indicado nos testes de ataque enquanto estiver montado. Em Trevas, o templário pode gastar o bônus indicado em uma Perícia do grupo Armas de Fogo.

Fúria Inspiradora: A fúria do Teutônico é tão grande que além de intimidar seus inimigos, serve como exemplo na liderança. Ele recebe o bônus indicado em Intimidação e Liderança.

Inimigo da Fé: Escolha um inimigo da fé protestante como os sarracenos, pagãos, bruxas ou satanistas. O Teutônico receberá o bônus de porcentagem indicado na tabela nos testes de ataque e nas perícias Intimidar, Lábia e Rastreio ao lidar com esse inimigo. O segundo indicador é o bônus de dano ao atacar tais inimigos.

Intimidação: A fúria guerreira dos Teutônicos pode causar uma impressão tão grande nos inimigos que os impede de atacar. Caso seja bem sucedido em um teste de Intimidação, o Teutônico paralisará o adversário durante uma rodada e o deixará desmoralizado durante o restante do combate, diminuindo em 5% seus testes. Pode usar essa habilidade um número de vezes por ida igual ao indicado na tabela.

Resistência Furiosa: O Teutônico recebe o bônus indicado na tabela em seu Índice de Proteção quando estiver em combate contra inimigos da fé.

Sobrevivência nos Ermos: Os Teutônicos são treinados para sobreviverem nos ambientes inóspitos do norte da Europa, lutando nas florestas e vilas pagãs. Recebe o bônus indicado nas Perícias Sobrevivência e Rastreio.

Nível      Aprimoramentos por Nível
1             Sobrevivência nos Ermos +5%, Bônus em Cavalgar +10%, Combate Montado +5%
2             Inimigo da Fé (+5%;+1), Intimidação x1
3             Carga! x1, Resistência Furiosa +1
4             Intimidação x2, Combate Montado +10%
5             Bônus em Cavalgar +20%, Fúria Inspiradora +5%
6             Resistência Furiosa +2, Intimidação x3
7             Carga! x2, Inimigo da Fé (+10%;+2)
8             Combate Montado +15%, Intimidação x4
9             Fúria Inspiradora +10%, Resistência Furiosa +3
10           Inimigo da Fé (+15%;+3), Carga! x3

Fonte: http://shaftiel.wordpress.com/2012/08/13/ordem-da-casa-teutonica-de-santa-maria-de-jerusalem/

Cenário

Começo hoje a escrever sobre a campanha de RPG que pretendo mestrar em breve para uns amigos meus. Farei desse espaço uma espécie de base de dados para posterior pesquisa dos jogadores e de possíveis leitores que queiram mestrá-las também.

SISTEMA
Utilizarei o sistema Daemon, por ser um sistema que mais mestrei. Aviso desde já que não sou 100% fiel às regras. Faço uso da regra de ouro do RPG: Não seja  fiel às regras! 

CENÁRIO
Ano: 1272 - 1290 (Período após a oitava e a nona cruzada)

A Importância das Cruzadas

 
Quando se denunciou na Europa que os muçulmanos maltratavam os peregrinos cristãos que chegavam à Terra Santa, iniciou-se o movimento cruzadista, que recebeu esse nome devido à cruz que usava em seus estandartes e vestuário os que dele participavam.


Convocadas primeiramente pelo papa Urbano II, em 1095, na França, as Cruzadas foram, então, expedições de cristãos europeus contra os muçulmanos ocorridas durante os séculos XI a XIII. A missão dos cavaleiros cristãos era libertar a região da Palestina, que na época fazia parte do Império Islâmico.

Além dessa motivação religiosa, entretanto, outros interesses políticos e econômicos impulsionaram o movimento cruzadista:


A Igreja procurava unir os cristãos do Ocidente e do Oriente, que haviam se separado em 1054, no chamado Cisma do Oriente, surgido a partir daí a Igreja Ortodoxa Grega, liderada pelo patriarca de Constantinopla;


Havia uma camada da nobreza que não herdava feudos pois a herança cabia apenas ao filho mais velho. Assim, os nobres sem terra da Europa Ocidental queriam apoderar-se das terras do Oriente;

Os comerciantes italianos, principalmente das cidades de Gênova e Veneza, desejavam dominar o comércio do Mar Mediterrâneo e obter alguns produtos de luxo para comercializarem na Europa;


Outros grupos populacionais marginalizados tinham interesse em conquistar riquezas nas cidades orientais.

Oito Cruzadas foram organizadas entre 1095 e 1270, que apesar de obterem algumas vitórias sobre os muçulmanos, não conseguiram reconquistar a Terra Santa.


Essas expedições envolveram desde pessoas simples e pobres do povo até a alta nobreza, reis e imperadores, tendo havido mesmo uma Cruzada formada apenas por crianças. Dezenas de milhares de pessoas uniam-se sob o comando de um nobre e percorriam enormes distâncias, tendo de obter alimentação e abrigo durante o percurso. A maioria antes de chegar ao destino era massacrada em combates.


Em 1099, Jerusalém foi conquistada, mas um século depois foi tomada novamente pelos turcos muçulmanos, não tendo sido jamais recuperada. No entanto, os europeus conseguiram reconquistar alguns pontos do litoral do Mar Mediterrâneo, restabelecendo o comércio marítimo entre a Europa e o Oriente.

O contato dos europeus com os povos orientais - bizantinos e muçulmanos - fez com que eles começassem a apreciar e a consumir produtos como perfumes, tecidos finos, jóias, além das especiarias, como eram chamadas a primeira, a noz-moscada, o cravo, o gengibre e o açucar.


No século XII, como conseqüência imediata das Cruzadas, inicia-se a expansão comercial na Europa e, com ela, o crescimento das cidades e a decadência do trabalho servil, típico do feudalismo. 



As Rotas Comerciais e a Feiras


A expansão comercial, a partir da reabertura do Mar Mediterrâneo, beneficiou principalmente as cidades italianas de Gênova e Veneza. Os comerciantes dessas cidades passaram a monopolizar o comércio de especiarias, comprando-as em portos orientais de Constantinopla, Alexandria e Trípoli, para, através do Mediterrâneo, revendê-las no mercado europeu.


Mas no norte da Europa, junto as Mar do Norte e ao Mar Báltico, também se formaram regiões de intenso comércio, servidas em parte delas cidades italianas, que as atingiam tanto pro mar como por terra. Era a região de Flandres, produtora de tecidos, onde se destacava a cidade de Bruges, e a região do Mar Báltico, que tinha como importantes centro Hamburgo, Dantzig e Lübeck, que ofereciam mel, peles, madeira e peixes vindos de regiões próximas.


Para contatar esses pontos, estabeleceram-se diferentes rotas comerciais. A rota marítima ligava as cidades italianas a importantes centros comerciais do norte da Europa. Já a rota terrestre também ligava as cidades italianas à movimentada região de Fladres, mas atravessava toda a França.


Nos cruzamentos dessas grandes rotas comerciais com outras menores, que uniam todos os pontos da Europa, surgiram as feiras, grandes mercados abertos e periódicos, para onde se dirigiam comerciantes de várias partes do continente. Protegidos pelos senhores feudais, que lhes cobravam taxas de passagem e permanência, os comerciantes fixavam-se por dias e semanas em algumas regiões, oferecendo mercadorias, como tecidos, vinhos, especiarias e artigos de luxo orientais. As feiras mais famosas foram as da região de Champagne, na França. 


O desenvolvimento comercial surgido no século XII, fez com que o dinheiro voltasse a ser necessário.



Porém, com em cada região cunhavam-se moedas de diferentes valores, apareceram os cambistas, pessos que conheciam os valores das moedas e se incubiam de trocá-las. Posteriormente, tornando-se as relações mais complexas, surgiram os baqueiros, que guardavam o dinheiro dos comerciantes e forneciam-lhes empréstimos mediante a cobrança de juros. São dessa época os sistemas de cheques e as letras de câmbio, que facilitavam as transações comerciais feitas a distância, utilizados até hoje.  


O Ressurgimento das Cidades
 
Com a expansão comercial desenvolveram-se os burgos, que haviam aparecido em volta de castelos, mosteiros e igrejas, além de outros, surgidos nas rotas comerciais, no litoral e à margem de rios. Sua população, como já vimos, era composta basicamente de artesãos e comerciantes, que ganhavam cada vez mais importância, em função de sua riqueza e de seu número.


Os artesãos dedicavam-se à fabricação de tecidos, instrumentos de ferro, de couro, e de muitos outros materiais. Suas oficinas, que funcionavam com as portas abertas, serviam igualmente para vender as mercadorias diretamente, sem intermediários.


Com o rápido cresimento do comércio e do artesanato nos birgos, a concorrência entre mercadores e artesãos aumentou bastante. Para regulamentar e proteger as diversas atividades, surgiram as corporações. No início eram formados apenas por mercadores autorizados e exercer seu trabalho em cada cidade. Posteriormente, com a especialização dos diversos artesãos, apareceram as corporações de ofício, que tiveram grande importância durante a Baixa Idade Média: corporações de padeiros, de tecelões, de pedreiros, de marceneiros etc.


Cada umas dessas corporações reunia os membros de uma atividade, regulando-lhes a quantidade e a qualidade dos produtos, o regime de trablho e o preço final. Procuravam assim eliminar a concorrência desleal, assegurar trabalho para todas as oficinas de uma mesma cidade e impedir que produtos similares de outras regiões entrassem nos mercados locais.


Dessa maneira, as corporações de ofício determinavam também as relações de trabalho. Em cada ofícina havia apenas três categorias de artesãos.


Mestres, que comandavam a produção, sendo donos de oficina, dos instrumentos de trabalho e da matéria-prima;


Oficiais ou companheiros, que eram trabalhadores especializados a serviço dos mestres, recebendo em troca um salário. Tornavam-se mestres após realizar uma obra que provasse sua capacidade e habilidade no ofício;


Aprendizes, jovens que aprendiam o ofício trabalhando, durante anos, e recebendo do mestre apenas casa e comida até poderem tornar-se companheiros.


Os comerciantes também procuravam organizar-se em corporações para manter o mercado comerciantes de diferentes cidades se associavam, formando uma liga. A mais famosa foi a Liga Hanseática, que reunia 80 ciades alemãs e que controlava comercialmente o norte da Europa.


Com o amplo desenvolvimento mercantil e artesanal e o conseqüente aumento de importância da classe dos burgueses, a antiga organização feudal, composta por nobres improdutivos e servos presos à terra, já não era mais adequada.


Os senhores feudais passaram a ganhar com o comércio, pois cobravam dos comerciantes taxas de passagem e de estabelecimento em seus feudos. A mão-de-obra servil declinava, pois, além de um grande número de trabalhadores agrícolas ter sido desviado para as Cruzadas (século XI e XII), muitos servos fugiram para dedicar-se às atividades urbanas. Interessados no aumento da produção e em maiores lucros, os senhores feudais liberaram os servos do trabalho obrigatório. Alguns senhores passam a permitir que os servos vendam seus produtos nas feiras e nas cidades, desde que lhes paguem uma quantia em dinheiro. Outros ainda começaram a se utilizar de lavradores assalariados, pagos por jornada, chamamos jornaleiros.

Pouco a pouco, o poder dos senhores feudais diminuiu, assim como a submissão das cidades às suas leis e impostos. Alguns dos mais importantes comerciantes e mestres-artesãos passaram a organizar-se num conselho, conhecido como comuna. Eram eles que administravam as cidades, cobrando taxas e impostos de seus moradores. Foram essas comunas burguesas que, a partir do século XII, passaram a organizar a luta pela autonomia das cidades. Ela foi sendo conquistada aos poucos, ou de forma violenta, quando se armava e derrotava o senhor feudal da região, ou de forma pacifica, ao comprar a independência da cidade, recebendo a carta de franquia do senhor feudal, que dava ampla autonomia aos núcleos urbanos.

A vitória desses movimentos comunais refletia a importância cada vez maior da burguesia, fato que iria afetar diretamente os acontecimentos dos séculos seguintes.  



As Sujas e Apertadas Cidades Medievais



Na baixa Idade Média, houve a rápida multiplicação do número de cidades, nas quais se exerciam atividades comerciais, manufatureiras e também artísticas. As cidades eram guarnecidas por mulharas que serviam para protegê-la das invasões de nobres e bandidos. Seus habitantes haviam conseguido desvinvular-se parcialmente do controle dos senhores feudais, adquirindo certos direitos e liberdades que atraíam grande número de camponeses. Essa imigração aumentou em demasia a população das cidades, tornando necessária a destruição posteiror reconstrução da muralhas, a fim de ampliar o espaço urbano. Esse procedimento, no entanto, só era acessível aos grandes centro; nas demais cidades, contruíram-se casas e jardins até mesmo no alto das largas muralhas.


Assim, dentro dos limites cercados das cidades, os terrenos eram caríssimos e procurava-se aproveitar cada centímetro. As contruções, em geral de madeira, eram colocadas umas às outras, e os andares superiores eram projetados sobre as ruas, que já eram estreitas, tornando-as ainda mais sombrias. O perigo de incêndio era constante.


Esse incontrolável crescimento demográfico dificultava a observância de padrões de higiene e de conforto. As condições sanitárias eram péssimas: o lixo eram despejado nas ruas e sua coleta ficava a cargo das eventuais chuvas; até que isso ocorresse, formavam-se montes de detrito, resolvidos por cães e porcos. A água dos rios e poços que abasteciam a cidade era freqüentemente contaminada, ocasionando consatantes surtos de tifo.


Em todo o século XIV e até meados do século XV, a Europa enfrentou uma série de circunstâncias que afetaram profundamente a vida de sua população. Mudanças climáticas trouxeram vários anos seguidos de muita chuva e frio, o que causou o extermínio de animais e plantações, levando a um longo período de fome; a peste negra, originária do Mar Negro e transmitida por ratos, dizimou milhões de europeus já enfraquecidos pela fome.


Além disso, a violência gerada pela Guerra do Cem Anos fez eclodirem revoltas populares que ceifaram outras tantas vidas.


As precárias condições urbanas agravaram ainda mais os problemas gerados por essas crises, pois só a peste negra, propiciada pelas más condições de higiene, fez a Europa perder mais da metade da sua população.
 
Fonte: http://www.historiadomundo.com.br/idade-media/baixa-idade-media.htm